Gosta das areias brancas das praias das Caraíbas, pois saiba que este peixe é um dos responsáveis por limpar os corais e “produzir” areia
O peixe-papagaio, uma espécie de cores vivas encontrada nas águas pouco profundas da Flórida e Mar das Caraíbas, é muito tolerante com os peixes-papagaio vizinhos, mas agressivo com estranhos. É o que revela um novo estudo publicado por Joshua Manning, investigador de pós-doutoramento no Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva da Universidade da Califórnia em Boulder e Sophie McCoy, bióloga marinha da Universidade da Carolina do Norte, em Chapel Hi na revista Ecology
Os investigadores passaram muitos dias debaixo de água a analisar o seu comportamento e a recolher informações importantes, afinal estes são os guardiões dos recifes de coral. São os responsáveis pela sua manutenção saudável e contribuem também para que as praias das Caraíbas continuem com as suas areias brancas.
“Os peixes-papagaio são uma parte importante do ecossistema dos recifes de coral e das funções ecológicas que este proporciona. A compreensão do seu comportamento ajudar-nos-á a avaliar se e como se podem atenuar os efeitos das alterações climáticas nos recifes de coral”, explica Joshua Manning.
O peixe-papagaio é uma das maiores espécies dos recifes das Caraíbas, medindo cerca de 1,5 pés de comprimento (45 cm). Têm dentes fortes, semelhantes a bicos, que lhes permitem passar 90% do dia a mastigar organismos microscópicos que crescem sobre e dentro das estruturas de carbonato de cálcio criadas pelos corais. Ao removerem os esqueletos dos corais, os peixes criam espaço para o crescimento de novos corais e produzem areia branca como resíduo digestivo. Sendo animais altamente territoriais, os peixes-papagaio machos defendem territórios tão grandes como dois campos de ténis, onde se alimentam e acasalam com um pequeno grupo de fêmeas. Mas nem todos têm um território. Alguns “flutuadores”, como o investigador lhes chama, estão sempre a observar os recifes, prontos a reclamar o espaço disponível.
Como mergulhador experiente, Joshua Manning passou mais de 400 horas debaixo de água durante os seus estudos de doutoramento a tentar perceber como é que os peixes-papagaio de holofotes se comportam e interagem uns com os outros. Reparou que os peixes podiam ser mais inteligentes do que se pensava.
Seguiu dez peixes-papagaio ao largo da costa de Bonaire, uma ilha das Caraíbas e sempre que um peixe flutuante passava por um território ocupado, os detentores do território inchavam, mostravam as barbatanas e afugentavam agressivamente o peixe flutuante. Mas quando os peixes-papagaio de territórios vizinhos nadavam perto das linhas de fronteira, os detentores do território eram muito menos agressivos. Quando os peixes-papagaio se comportavam de forma agressiva com os seus vizinhos, a maior parte das vezes era porque se tinham desviado demasiado para o território de outro peixe-papagaio enquanto perseguiam outro peixe-papagaio, o que resultava em retaliação.
Os cientistas observaram este efeito de “inimigo querido” — quando os detentores de território exibem menos agressividade para com os vizinhos do que para com estranhos. Joshua Manning e a sua colaboradora, Sophie McCoy descreveram este fenómeno pela primeira vez no peixe-papagaio.
Joshua Manning afirmou que os peixes-papagaio podem ser mais agressivos em relação aos animais flutuantes porque estes têm mais probabilidades de tentar expulsar os detentores de território e de se apoderar dos seus territórios. Embora os machos que dominam o território tenham melhores oportunidades de acasalamento, os seus constantes esforços de patrulhamento e defesa afectam a sua condição corporal. Como resultado, têm de concentrar a sua energia na luta contra as ameaças mais significativas.
Para surpresa da equipa, os peixes flutuantes pareciam reconhecer as fronteiras territoriais. Joshua Manning reparou que os peixes flutuantes nadavam frequentemente através dos recifes, utilizando as zonas tampão entre territórios estabelecidos para evitar agressões. “Estes peixes podem ser mais inteligentes do que se pensava. Parece que reconhecem os vizinhos, encontram os limites dos territórios e têm a capacidade de aprender e utilizar a informação”, explica.
Devido às alterações climáticas, os recifes de coral estão a diminuir rapidamente. Entre 2023 e meados de maio de 2024, os cientistas confirmaram o branqueamento em massa dos corais em pelo menos 62 países e territórios em todo o mundo.
Os peixes-papagaio dependem dos recifes de coral para se alimentarem e se abrigarem. A perda de corais — devido à acidificação e ao aquecimento dos oceanos — pode ter um impacto significativo no seu habitat e nas suas populações. Ao mesmo tempo, os peixes-papagaio podem acelerar a recuperação dos recifes após eventos de branqueamento, criando espaço vazio para que novas larvas de coral se instalem e cresçam.
“Os recifes são uma fonte vital de alimentos e suportam uma imensa biodiversidade, incluindo espécies com um potencial médico significativo. Ao estudar a forma como os peixes-papagaio utilizam o espaço e como o seu pastoreio influencia os padrões de recrutamento dos corais, podemos compreender melhor como os recifes podem recuperar de perturbações e adaptar-se às alterações climáticas”, afirmou Joshua Manning.