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Planeta regista temperatura mais elevada em 120 mil anos!

Aquecimento Global em 2023: O Planeta registra temperatura mais Alta em 120.000 Anos, Entrando em ‘Território Desconhecido’, Diz OMM e Nasa

Por: Luiz Marques, Ecodebate

Em março de 2024, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) lançou seu relatório anual, The State of the Global Climate 2023 (doravante OMM 2023), o qual confirmou que 2023 foi o ano mais quente já registrado, com uma temperatura média global 1,45°C acima dos níveis pré-industriais

Segundo o site Ecodebate, este aumento significativo no aquecimento global, aliado ao impacto do fenômeno El Niño, coloca o planeta em um cenário sem precedentes, com condições climáticas que ultrapassam as previsões dos modelos tradicionais. Cientistas alertam que o mundo pode estar entrando em “território desconhecido”, onde o comportamento do clima e seus efeitos sobre o ambiente, como secas e padrões de precipitação, se tornam cada vez mais imprevisíveis e difíceis de controlar

“A temperatura média global próxima à superfície em 2023 foi 1,45 ± 0,12 °C acima da média de 1850–1900” (OMM 2023). Isso, de janeiro a dezembro do ano passado. Segundo o Copernicus, a agência europeia do clima, a temperatura média superficial global, terrestre e marítima combinadas, dos doze meses entre março de 2023 e fevereiro de 2024 foi 1,56 oC mais quente do que a média do período pré-industrial (1850 – 1900) e a temperatura de fevereiro de 2024 foi 1,77 oC mais quente do que a da média dos meses de fevereiro nesse período de referência.É possível, assim, que os 12 meses entre abril de 2023 e março de 2024 superem a marca de 1,56 oC e assim sucessivamente até que os efeitos do atual El Niño cessem ou diminuam.

O salto do aquecimento de 2023 introduziu-nos em “território desconhecido”?

O segundo ponto do relatório da OMM situa o aquecimento de 2023 em relação aos registros históricos do clima, iniciados por volta de 1850: “O ano de 2023 foi o ano mais quente no registro observacional de 174 anos, superando claramente os anos mais quentes anteriores. O aquecimento de 2016 atingiu 1,29 ± 0,12 °C (acima da média de 1850–1900) e o de 2020 atingiu 1,27 ± 0,13 °C. Os últimos nove anos, 2015–2023, foram os nove anos mais quentes já registrados. (…) A temperatura global média do decênio 2014 – 2023 é 1,20 ± 0,12°C acima da média de 1850 a 1900, o mais quente período de 10 anos já registrado” (OMM 2023).

Observou-se em 2023, portanto, um aumento no aquecimento médio global de quase 0,2 oC. No mesmo mês da publicação do relatório da OMM, Gavin Schmidt, diretor do Goddard Institute for Space Studies (Nasa), publicou um artigo a chamar a atenção para a excecionalidade desse salto nos registros históricos do aquecimento. Já o seu título, diz a que vem: “Os modelos climáticos não podem explicar a gigantesca anomalia de calor de 2023. Podemos estar em território desconhecido” (uncharted territory). O autor parte da constatação de que “nos últimos nove meses, as temperaturas médias da superfície terrestre e do mar ultrapassaram os recordes anteriores todos os meses em até 0,2 °C – uma margem enorme em escala planetária”. Para aquilatar quão enorme é efetivamente essa margem, basta lembrar que a taxa de aquecimento médio global entre 1970 e 2010 foi de 0,18 opor década, o que já representava uma enorme aceleração, uma vez que a taxa de aquecimento entre 1920 e 1970 fora de 0,04 oC por década. Entende-se bem, nesse contexto, que Gavin Schmidt retome a hipótese de que o sistema climático pode ter entrado em “território desconhecido” (uncharted territory). Ele emprega essa expressão, contudo, com a máxima cautela, frisando que tudo ainda depende do comportamento do clima após o El Niño ainda em curso:

“Se a anomalia não se estabilizar até agosto — uma expetativa razoável baseada em eventos anteriores do El Niño — então o mundo estará em território desconhecido. Isto poderia implicar que o aquecimento do planeta já está a alterar fundamentalmente a forma como o sistema climático funciona, muito mais cedo do que os cientistas previam. Poderá também significar que as inferências estatísticas baseadas em acontecimentos passados são menos fiáveis do que pensávamos, acrescentando mais incerteza às previsões sazonais de secas e padrões de precipitação”.

planeta em cima de terra árida e duas sombras de pessoas tristes
Foto: Freepik

O termo “território desconhecido” no presente contexto alude aos mapas dos séculos XV e XVI que traziam a expressão terra incógnita para se referir às zonas ainda não mapeadas do planetaEle foi empregado ao menos desde 2022 por António Guterres, secretário-geral da ONU, que afirmou: “os impactos nocivos da mudança climática estão nos levando para territórios desconhecidos de destruição”. O termo tornou-se recorrente na comunidade científica e foi empregado, por exemplo, por William Ripple e colegas num artigo intitulado: “The 2023 state of the climate report: Entering uncharted territory”. Na conclusão do mesmo, os autores afirmam: “Tememos o território desconhecido em que entramos agora. As condições vão se tornar muito angustiantes e potencialmente incontroláveis para grandes regiões do mundo”. Esse mesmo temor levou Gavin Schmidt a afirmar:

“É humilhante e um tanto preocupante admitir que nenhum ano confundiu mais as capacidades preditivas dos cientistas do clima do que 2023 (…) Espera-se uma tendência geral de aquecimento devido ao aumento das emissões de gases com efeito de estufa (GEE), mas este súbito aumento de calor excede em muito as previsões feitas por modelos climáticos estatísticos que se baseiam em observações anteriores”.

Seja como for, mais importante do que especular sobre a natureza do salto no aquecimento ocorrido no último ano e nos três meses de 2024, é entender que o último decênio foi o mais quente não apenas dos registros históricos (mensurações instrumentais), mas do inteiro Holoceno, os últimos 11.700 anos. Além disso, se a fronteira do Holoceno foi irreversivelmente ultrapassada no segundo decênio do século, outra fronteira provavelmente já o foi também, ou está em vias de sê-lo, neste terceiro decênio, quando o aquecimento atual superou, ou está na iminência de superar, as mais altas temperaturas médias globais de um período de referência muito mais remoto: o Eemiano, o último período interglacial (130 mil a 115 mil anos atrás). Essa ultrapassagem começou a ser largamente admitida desde meados de 2023, inclusive pela ONU: “É oficial: a temperatura média global em julho de 2023 foi a mais alta já registrada e provavelmente a mais alta em pelo menos 120.000 anos”. A ONU repercutia então o Copernicus, a agência europeia do clima, na voz de sua diretora adjunta, Samantha Burgess, a qual acabara de afirmar que “o planeta não esteve tão quente nos últimos 120.000 anos”.

Nota: Este texto foi publicado originalmente no ECODEBATE. Pode ler as conclusões do relatório aqui

O autor principal: Luiz Marques, Professor aposentado e colaborador do Departamento de História do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp. Atualmente é professor sénior da Ilum Escola de Ciência do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM). Pela Editora da Unicamp, publicou Giorgio Vasari, Vida de Michelangelo (1568) , 2011, e Capitalismo e Colapso Ambiental , 2015, 3ª edição, 2018. É membro dos coletivos 660, Ecovirada e Rupturas.

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