Um estudo internacional liderado pela Universidade de Exeter revelou que as moscas-das-flores migratórias (Episyrphus balteatus), insetos minúsculos mas abundantes, são capazes de transportar pólen a longas distâncias através do Mar do Norte, desempenhando um papel essencial na polinização e na manutenção da biodiversidade vegetal.
Os investigadores analisaram 121 exemplares que aterram numa plataforma petrolífera isolada, situada a 200 quilómetros da costa da Escócia, sem qualquer vegetação. O resultado surpreendeu: 92% dos insetos transportavam pólen de múltiplas plantas, chegando alguns a carregar vestígios de até 14 espécies diferentes. No total, foram identificadas 102 espécies de plantas, incluindo urtiga, sabugueiro, ulmeiro e várias culturas agrícolas como cereais, frutos e legumes.

Fonte: Craig Hannah
Uma ponte invisível entre ecossistemas
Através da análise genética dos grãos de pólen e de simulações de trajetórias do vento, os cientistas concluíram que muitos destes insetos tinham viajado mais de 500 quilómetros, partindo de regiões como a Holanda, o norte da Alemanha ou a Dinamarca. Outros pareciam ter origem na Noruega, migrando em direção ao Reino Unido.
“Os nossos resultados mostram que as moscas-das-flores podem ligar populações de plantas separadas por grandes distâncias, promovendo o fluxo genético essencial para a sobrevivência de muitas espécies”, explicou Toby Doyle, autor principal do estudo publicado na revista Journal of Animal Ecology.
Mais do que polinizadores
As moscas-das-flores são consideradas o segundo grupo mais importante de polinizadores do mundo, visitando mais de 70% das plantas silvestres e mais de metade das culturas alimentares globais, com um valor económico estimado em 300 mil milhões de dólares por ano.
Além da polinização, desempenham um papel fundamental na agricultura ao controlar pragas como os afídeos (pulgões), que provocam grandes prejuízos nas colheitas.
Descansar no meio do mar
A investigação decorreu entre 2021 e 2023, quando milhares de insetos foram observados a chegar à plataforma petrolífera durante as migrações sazonais. Ao viajarem com a ajuda do vento, estes insetos utilizam estruturas no mar como pontos de descanso temporário antes de prosseguirem caminho.
Para os cientistas, este fenómeno pode ter implicações ecológicas e agrícolas de grande escala. “Ainda estamos a começar a compreender como estes movimentos em massa influenciam os ecossistemas. Mas é claro que estamos perante um processo vital para a polinização e para a resiliência da agricultura europeia”, sublinhou Karl Wotton, coautor do estudo.