Num mundo cada vez mais digital será que os costumes tradicionais terão de ser reiventados? Ou será que novas normas de saudação digitais podem remodelar a etiqueta social e substituir o toque pessoal?
Um estudo da Cognitive Neuroscience Society descobriu que um único aperto de mão pode estabelecer o mesmo nível de intimidade e confiança que três horas de conversa cara a cara. Mas, num mundo onde a comunicação digital está rapidamente a tornar-se a norma, os rituais digitais, por mais sofisticados que sejam, podem realmente substituir o calor de um aperto de mão físico?
Philipp Pratt, um dos principais especialistas em inovação da Geonode , diz que podemos começar a desvendar este enigma. “Ações físicas, como um aperto de mão ou uma pancadinha nas costas, carregam consigo além de significados simbólicos mensagens subconscientes de calor e familiaridade”. Há facetas nas interações humanas físicas que são muito importantes, como por exemplo, o contacto de pele com pele pode transmitir mensagens que as palavras não dizem, assim como alguns sinais não verbais, caso de expressões faciais e o contacto visual.
No domínio da comunicação não verbal, o ato de estender a mão é um gesto universal e que transcende barreiras culturais. Este simples gesto tem feito correr muita tinta à procura de explicações mais profundas, desde que as mãos se apertam há uma infinidade de informações a ser analisadas. O aperto foi firme ou frouxo? Se foi firme revela interesse, confiança e sinceridade. Já o contrário é mau agouro: hesitação e desinteresse. Pode ser duradouro ou rápido. Pode ser simples ou duplo, veja-se o caso dos políticos muitas vezes colocam as duas mãos para demonstrar um calor extra. Se for acompanhado de um sorriso, ainda melhor. O aperto de mão é quase como a abertura de um jogo, que pode decidir um negócio, ou mesmo um emprego. É todo um mundo que deixa de existir no online.
O nascimento dos Rituais Digitais
Porém, os rituais digitais não são apenas emojis espalhados generosamente nas nossas conversas. Eles estendem-se a hábitos online como “gostar” de publicações, enviar “stories” no Instagram ou até mesmo o simples ato de responder diligentemente a e-mails. E estes estão longe de ser triviais. Para Philipp Pratt, o significado por detrás das interações digitais é tão complexo quanto as físicas. Por exemplo, o ato de “gostar” de uma publicação estende-se além do seu valor nominal — “pode significar apoio, endosso ou apenas reconhecimento”, afirma.
Até porque por detrás destes rituais digitais há uma dinâmica muito poderosa, nomeadamente, familiaridade na estrutura, isto é, pode haver uma sensação de previsibilidade e rotina, depois permitem-nos conetar com uma panóplia maior de personalidades e culturas e por fim, deixam rasto, logo implicam uma responsabilização muito maior. Os rituais digitais redesenharam o cenário da interação humana, tornando-o mais versátil e inclusivo. Quando adotados com sinceridade, podem de facto preencher a lacuna deixada por gestos físicos, pelo menos até certo ponto.
O especialista da Genode comenta: “Não se trata de substituição de interações físicas, mas sim de explorar novos caminhos .” Por isso, tanto os gestos físicos quanto os rituais digitais ocuparão um lugar essencial na interação social — cada um possuindo características únicas que o outro não pode imitar completamente. Essa sinergia criará um senso eclético de conexão, abraçando o melhor dos dois mundos. “O nosso desafio como cidadãos globais está em aproveitar ambos os lados e entender os pontos fortes, subtilezas e limitações de cada um”. Embora nada possa realmente replicar o calor de um aperto de mão, os crescentes rituais digitais certamente podem esforçar-se para evocar um nível semelhante de conexão e confiança”, finaliza.