A proibição do uso de telemóveis nas escolas pode trazer benefícios claros para o bem-estar e a saúde mental dos estudantes, segundo novos estudos liderados por investigadores da Flinders University, em colaboração com universidades australianas e internacionais.
As conclusões, publicadas na revista científica Computers in Human Behavior, analisaram respostas de mais de 1500 estudantes de cinco escolas da Austrália do Sul, recolhidas antes e depois da implementação da medida em junho de 2023. No total, foram avaliadas cerca de 7000 respostas abertas.
“Uma pausa digital valiosa”
“Em conjunto, os dois estudos destacam que as escolas sem telemóveis oferecem aos alunos uma pausa digital valiosa, que apoia tanto a saúde mental como a aprendizagem”, afirma a investigadora e psicóloga clínica Marcela Radunz, da Faculdade de Educação, Psicologia e Trabalho Social da Flinders University.
A especialista sublinha, no entanto, que a proibição deve ser acompanhada de estratégias complementares: “Os resultados também confirmam que, embora estas proibições possam ser uma ferramenta económica e eficaz, devem ser combinadas com programas de literacia digital e de saúde mental, para preparar os jovens para a vida num mundo cada vez mais digital.”
Resultados mais positivos
Entre os principais efeitos apontados pelos alunos destacam-se:
- Relações sociais mais fortes – mais interações presenciais, conversas de melhor qualidade e maior atenção ao ambiente e aos colegas.
- Maior concentração nas aulas – menos distrações, maior envolvimento na aprendizagem e relatos de melhores notas. Professores referiram ainda gastar menos tempo a gerir problemas relacionados com telemóveis.
- Ambientes mais saudáveis e seguros – menos tempo de ecrã, mais atividade física, melhor humor e redução de casos de cyberbullying e conflitos.
Um aluno sintetizou desta forma:
“Desde que tivemos a proibição do telemóvel, não temos brigas. As pessoas fazem mais amigos, socializam e praticam mais desporto nos intervalos.”
Impacto na saúde mental
Um estudo anterior já tinha comparado a saúde mental de estudantes em escolas com e sem proibição de telemóveis, concluindo que a medida se associava a níveis mais baixos de sofrimento psicológico, incluindo sintomas de ansiedade e depressão.
Os jovens relataram ainda menos efeitos negativos ligados ao uso problemático do telemóvel, como medo de exclusão, comportamentos de risco e comparações sociais.
Segundo Dan King, psicólogo e autor sénior dos estudos, “embora as melhorias tenham sido modestas, a investigação apoia a ideia de que até pequenas reduções no sofrimento psicológico podem ter implicações significativas para a saúde pública quando aplicadas em larga escala.”
Tendência global
Com a posse de smartphones a ultrapassar os 90% entre adolescentes em muitos países, cresce a preocupação com os efeitos do uso excessivo na saúde mental. Investigadores alertam que o consumo desmedido pode aumentar os níveis de ansiedade, depressão e stress.
Face a este cenário, vários países, incluindo a Austrália, decidiram implementar proibições em ambiente escolar. Até agora, as evidências sobre a sua eficácia eram limitadas, mas os novos estudos fornecem suporte mais sólido.
“Estes novos estudos lançam luz sobre a forma como as proibições de telemóveis estão a influenciar os jovens na Austrália do Sul, tanto em termos de resultados de saúde mental como da sua experiência vivida”, conclui o Professor King.
Um dos estudos aqui, outro estudo aqui
