Investigadores da Virginia Tech criaram um modelo que liga o comportamento individual dos mosquitos à propagação de doenças como a malária e o dengue
Por vezes, basta um leve zumbido a anunciar a sua presença. O mosquito pousa, perfura a pele e suga o sangue. Este pequeno gesto é, na verdade, o ponto de partida para algumas das doenças mais letais do mundo: malária, dengue, Zika ou vírus do Nilo Ocidental. Juntas, provocam quase um milhão de mortes por ano.
Um grupo de matemáticos da Virginia Tech, nos Estados Unidos, desenvolveu agora um modelo inovador que descreve, com detalhe, o comportamento dos mosquitos e como este se traduz na transmissão de doenças entre humanos. O trabalho, liderado por Kyle Dahlin, foi recentemente publicado na revista científica Bulletin of Mathematical Biology.
“O mosquito pode transmitir patogénios ainda antes de começar a alimentar-se, quando liberta saliva no momento em que tenta perfurar a pele”, explica Dahlin, investigador pós-doutorado em Matemática.
O modelo criado pela equipa tem em conta vários cenários possíveis: o que acontece se a pessoa reagir e matar o mosquito? E se o inseto falhar a picada? Ou se procurar outro hospedeiro, iniciando um novo ciclo de infeção?
“Essas possibilidades em cadeia podem amplificar a transmissão da doença”, acrescenta Dahlin. O objetivo é representar matematicamente esses comportamentos e perceber como pequenas variações individuais se refletem na disseminação da doença à escala populacional.
Um modelo com resultados surpreendentes
Segundo Lauren Childs, professora associada e coautora do estudo, uma das conclusões mais curiosas é que, a nível populacional, pode ser menos grave deixar o mosquito morder.
“Pode adoecer uma pessoa, mas reduz as hipóteses de o inseto continuar à procura de outros hospedeiros e espalhar a doença a mais pessoas”, explica.
Os investigadores não estão, naturalmente, a sugerir que se deva deixar os mosquitos picar. O modelo serve, antes, para perceber que tipo de estratégias de controlo — como repelentes ou inseticidas — podem ser mais eficazes, especialmente aqueles que impedem o mosquito de pousar antes de tentar picar.
“Com a parametrização certa, podemos usar o modelo para orientar o desenvolvimento de produtos e políticas de saúde pública mais eficazes”, sublinha Childs.
Matemática ao serviço da saúde pública
Dahlin chegou à Virginia Tech com o objetivo de trabalhar com Childs e com o matemático Michael Robert no desenvolvimento de modelos de transmissão mais realistas. O projeto contou com o apoio de uma bolsa da National Science Foundation, nos Estados Unidos.
O investigador acredita que este trabalho é “mais uma ferramenta no arsenal da saúde pública”, capaz de complementar os métodos já existentes de combate a doenças transmitidas por mosquitos.
“Não será uma solução única, mas esperamos que seja mais uma peça importante na luta contra estas doenças”, afirma Dahlin.
Ao transformar o comportamento errático de um mosquito num sistema matemático previsível, a equipa espera contribuir para uma melhor compreensão dos mecanismos de infeção — e, eventualmente, para salvar vidas.

