O Global Risks Report 2025, publicado pelo Fórum Económico Mundial, revela um cenário inquietante: os riscos ambientais continuam a dominar a lista de preocupações globais, tanto a curto como a longo prazo. Este relatório, baseado nas percepções de mais de 900 especialistas de todo o mundo, destaca os desafios que moldarão a próxima década, expondo uma dura realidade para empresas e governos. Veja quais…
Entre os riscos identificados, os eventos climáticos extremos surgem como o mais grave no curto prazo, seguidos pela perda de biodiversidade e o colapso dos ecossistemas a longo prazo. É um alerta para a fragilidade do nosso planeta, onde recursos naturais estão a escassear e mudanças críticas nos sistemas terrestres ameaçam a sustentabilidade da vida como a conhecemos.
É irónico, para não dizer trágico, que hoje, no mesmo dia em que Donald Trump toma posse novamente como presidente dos Estados Unidos da América, um homem que obrigou a retirar fact-checks das redes sociais e alimenta uma era de desinformação sendo também um dos maiores negaciocionistas relativamente às alterações climáticas. Este relatório alerta-nos para o impacto devastador dos riscos climáticos e da desinformação. Hoje, com as inundações de Valência ainda frescas na memória e os incêndios descontrolados que devastam Los Angeles há mais de duas semanas, torna-se impossível ignorar a mensagem: estamos em terreno perigoso, sublinhando a gravidade dos eventos climáticos extremos, que ocupam o topo das preocupações do relatório.
As principais conclusões do relatório são:
- Conflitos armados entre Estados: Identificados como o risco global mais premente para 2025, com quase um quarto dos inquiridos a classificá-los como a preocupação mais grave para o próximo ano.
- Eventos climáticos extremos: Mantêm-se como uma ameaça significativa, destacando a urgência de abordar as alterações climáticas de forma eficaz.
- Desinformação e polarização social: A rápida disseminação de informações falsas, potenciada pelos avanços tecnológicos, continua a ser uma preocupação, fomentando divisões sociais e ameaçando a coesão global.
- Tensões geoeconómicas: O aumento de políticas comerciais protecionistas e confrontos económicos entre nações refletem a crescente incerteza na economia global.
A análise revela ainda uma mudança na natureza dos riscos no curto prazo. Se, há apenas um ano, os riscos ambientais dominavam completamente as preocupações de curto prazo, agora dão lugar a uma crescente importância dos riscos tecnológicos, geopolíticos e sociais. Contudo, no horizonte de 10 anos, os riscos ambientais continuam a predominar.
O que tudo isto nos diz é que os desafios ambientais estão cada vez mais entrelaçados com questões sociais, tecnológicas e geopolíticas. A sustentabilidade, nesta perspetiva, deve ser multifacetada e transversal. O que só dá mais força a visão ESG. Ainda assim, há uma gritante falta de ação.
Há algo profundamente inquietante em ver o verde, tradicionalmente associado à esperança, transformar-se num sinal de alerta. A ciência e os números não mentem: o planeta está a gritar por atenção, e as soluções que continuamos a implementar estão longe de ser suficientes. Vejamos:
- A curto prazo (2 anos): apenas dois riscos ambientais figuram no top 10 em termos de severidade – eventos climáticos extremos (2º lugar) e poluição (6º lugar).
- A longo prazo (10 anos): o top 5 de riscos com maior severidade é quase inteiramente composto por riscos ambientais, com destaque para:
- Eventos climáticos extremos (1º lugar)
- Perda de biodiversidade e colapso de ecossistemas (2º lugar)
- Mudanças críticas nos sistemas terrestres (3º lugar)
- Escassez de recursos naturais (4º lugar)
- Poluição (10º lugar)
Este relatório não é apenas um exercício académico, mas um guia essencial para antecipar e mitigar riscos. A inação ou respostas inadequadas podem exacerbar vulnerabilidades globais, tornando imperativo que líderes e sociedades adotem abordagens inovadoras e eficazes para enfrentar os desafios do século XXI.
Apesar dos avisos claros, parece que continuamos a não aprender ou aprender muito pouco. Continuamos a implementar soluções do século passado para enfrentar riscos do século XXI. É urgente parar de assobiar para o lado e enfrentar a realidade com a seriedade que ela exige. O aumento da desigualdade e a persistente polarização social, são agora acompanhados por conflitos armados entre Estados, evidenciam um mundo paralisado perante os seus próprios desafios.
A pergunta que fica é: quanto mais estamos dispostos a perder antes de agir?