#PorUmMundoMelhor

Teresa Cotrim

Quantas árvores são precisas para arrefecer uma cidade?

Estudo revela nova forma de calcular metas de arborização urbana

Com o agravamento das ondas de calor nas cidades — exacerbadas por superfícies impermeáveis como o betão e o asfalto — plantar árvores tornou-se uma solução cada vez mais valorizada. No entanto, a resposta à pergunta “quantas árvores são necessárias para arrefecer uma cidade?” tem permanecido vaga. Um novo estudo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences oferece uma resposta mais precisa, apoiada por dados científicos e aplicável a diferentes cidades do mundo.

Até agora, a maioria das iniciativas de arborização urbana baseava-se em análises de pequena escala, como ruas ou bairros. Sabia-se, por exemplo, que um aumento de 1% na cobertura arbórea podia reduzir as temperaturas locais entre 0,04°C e 0,57°C. Mas isso não dava resposta à escala de uma cidade inteira — onde as decisões estratégicas são tomadas.

O novo estudo, conduzido por cientistas da Academia Chinesa de Ciências, em colaboração com o ecólogo urbano Steward Pickett (Cary Institute of Ecosystem Studies), analisou dados de temperatura e cobertura arbórea em quatro cidades com climas distintos: Pequim, Shenzhen, Sacramento e Baltimore. Os resultados revelaram que a eficiência de arrefecimento das árvores aumenta à medida que a área analisada se expande, seguindo uma lei de potência estatística. Isto significa que o impacto do aumento de cobertura arbórea é maior a nível de cidade do que a nível de quarteirão — embora com ganhos decrescentes a escalas muito grandes.

O exemplo de Baltimore

Segundo os investigadores, um aumento de 1% na cobertura arbórea em Baltimore poderá baixar a temperatura média da superfície urbana em cerca de 0,23°C. Para atingir uma redução de 1,5°C, a cidade teria de aumentar a sua cobertura arbórea em 6,39%.

Mas quantas árvores isso representa na prática?

Baltimore tem uma área aproximada de 240 km² (ou 24.000 hectares). Um aumento de 1% na cobertura arbórea corresponde a 240 hectares de novas zonas arborizadas.

A densidade típica de plantação urbana varia entre 100 e 300 árvores por hectare, consoante o espaço disponível, o tipo de árvores e o planeamento urbano.

Assim, para 1% de aumento:

  • Seriam necessárias entre 24.000 e 72.000 árvores

Para atingir os 6,39% necessários para uma redução de 1,5°C:

  • Estimativa total: entre 153.000 e 460.000 novas árvores

Estes números ilustram bem a escala do investimento necessário, mas também o potencial concreto das árvores enquanto solução baseada na natureza para mitigar o calor urbano.

Uma ferramenta útil para planeamento climático urbano

O estudo representa uma mudança importante: permite às cidades definir metas quantificáveis de arborização com base em objetivos de arrefecimento específicos. A consistência dos resultados em cidades com climas tão diferentes sugere que este modelo pode ser adaptado a outras realidades urbanas no mundo inteiro.

Este modelo oferece, pela primeira vez, uma ferramenta que permite a tradução de metas climáticas em acções concretas e mensuráveis — essencial para planeadores urbanos, autarquias e governos que pretendam adaptar as cidades ao calor extremo.

O investigador Weiqi Zhou, coautor do estudo, sublinha que a relação entre árvores e arrefecimento foi consistente entre as quatro cidades analisadas, apesar dos seus climas muito diferentes (temperado, mediterrânico e subtropical), o que indica que o modelo pode ser aplicado noutros contextos urbanos a nível global.

Contudo, os autores sublinham que esta abordagem não substitui a necessidade de planear a distribuição das árvores de forma equitativa, garantindo que os benefícios do arrefecimento — e os benefícios sociais e ambientais associados — cheguem a todas as comunidades, sobretudo às mais vulneráveis ao calor extremo.

Plantar árvores… mas onde?

Apesar dos avanços, o estudo também tem as suas limitações. Como salienta Pickett, esta ferramenta não indica onde plantar as árvores — essa decisão exige uma análise mais fina, com dados sociais, planeamento urbano e envolvimento das comunidades locais, para garantir que os benefícios das árvores são distribuídos de forma justa por toda a cidade.

Ainda assim, este novo modelo marca um ponto de viragem: permite às cidades trocarem o improviso por metas baseadas em ciência para combater o calor urbano — uma necessidade cada vez mais urgente num mundo em aquecimento.

Como conclui Pickett: “Este estudo não diz onde plantar as árvores. Essa é uma outra camada de decisão, que exige envolvimento das comunidades e consideração de fatores sociais.”

A próxima etapa, segundo os investigadores, será aplicar este modelo a outras cidades e testar a sua eficácia em cenários futuros, num mundo cada vez mais quente e urbano.

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