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Queimadas reduzem biodiversidade da Amazónia

Os seus impactos na floresta constataram o empobrecimento de espécies e a redução de stock de carbono em áreas de transição da Amazónia e do Cerrado. Um estudo, financiado pelo Instituto Serrapilheira, detetou uma diminuição de até 68% na capacidade de conter dióxido de carbono (CO₂) na biomassa da vegetação de florestas impactadas pelo fogo de forma reiterada

Os cientistas liderados por Fernando Elias, da Universidade Federal Rural da Amazónia, e Maurivan Barros Pereira, da Universidade Estadual do Mato Grosso, analisaram 14 áreas de florestas, divididas em três categorias: nunca impactadas pelo fogo, queimadas uma vez e aquelas que registaram múltiplos incêndios. Em campo, foram recolhidos dados como o número de espécies, densidade de troncos e calculados os stocks de carbono acima do solo.

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Amazónia tem o maior número de queimadas e incêndios em 17 anos. (Brigadistas combatem fogo no Pará. André Noboa). Foto: Agência Santarém.

“A Amazónia não está a virar uma grande savana, está a transformar-se numa floresta secundária. Está a acontecer uma secundarização da floresta. Uma floresta mais pobre, com menos stock de carbono, como observámos, uma redução de quase até 70%, e com menos indivíduos”, alerta Fernando Elias.

Risco de extinção

Para entenderem como a composição florística das florestas é afetada pelo fogo, ou seja, que espécies são mais atingidas e que mudanças ocorrem na diversidade após um incêndio, os investigadores classificaram as espécies como típicas do Cerrado, de ambientes florestais ou generalistas, que ocorrem tanto no Cerrado quanto na floresta nas áreas afetadas em épocas distintas e sem um controle científico.

Segundo Fernando Elias, a conclusão de que não haverá uma savanização da Amazónia e sim um empobrecimento da floresta veio a partir da observação de que número de espécies savanicas e generalistas permaneceu igual após a perturbação causada pelo fogo, enquanto que as espécies florestais, mais sensíveis, sofreram um declínio. “O súber, que é a casca, em algumas espécies florestais é até ausente, ou muito fino. Então, diante de uma chama, do evento de fogo, essas espécies são muito vulneráveis e sofrem uma mortalidade extrema. Então imagine uma espécie rara existente numa floresta e essa floresta é lavrada pelo fogo. Se não tiver as características de defesa contra esse fogo, para o suportar é extinta localmente”, explica.

Serviços

De acordo com o investigador, esse empobrecimento da floresta, além de representar uma ameaça de extinção de espécies, é uma ameaça ao planeta e à humanidade. “Vai gerar uma floresta pobre, com espécies que já não conseguem gerar e nem fornecer o serviço ecossistémico, como, por exemplo, de regulação de chuva, de sequestro de carbono para mitigação das mudanças do clima, serviço de polinização. Todos os variados serviços ecossistémicos possíveis que uma floresta pristina [original] consegue fornecer à sociedade, essas florestas queimadas serão comprometidas”, diz.

Entre esses comprometimentos está a capacidade de retirar da atmosfera e reter dióxido de carbono (CO₂) na biomassa da vegetação. “Em termos de densidade, em termos de stock de carbono, observamos que queimadas uma única vez, eu já tive redução de aproximadamente quase 50% nos valores dos stocks. E queimadas múltiplas vezes até 68% de perdas”, explica.

Na prática, significa que cada área queimada, além de emitir gases do efeito estufa pela própria queima, também libera o dióxido de carbono que estava na composição de cada árvore. “Os stocks de carbono das áreas que não foram queimadas são de 25,5 toneladas por hectare. E as áreas que queimaram uma vez, 14,1. Já as que queimaram múltiplas vezes, 8. Então, imagine a diferença que se tem entre a área que queimaram múltiplas vezes e a área que nunca queimou”.

Vulnerabilidade

As áreas estudadas ficam localizadas nas divisas dos estados do Amazonas, Pará e Mato Grosso, numa região que integra o Arco do Desmatamento. Segundo os investigadores, a degradação também ocorre por causa da atividade da agropecuária nas proximidades da floresta e pelo fato de estar numa região mais seca do que a região mais intocada da Amazónia, por isso, todas as áreas demonstraram mais vulnerabilidade ao avanço rápido das mudanças climáticas. “São áreas muitas vezes tratadas como Cerrado, mesmo tendo elevado stock de carbono e espécies tipicamente amazónicas. E, no Código Florestal, em áreas de Cerrado, pode-se desmatar 80%”.

Financiamento

O estudo Mudanças Pós-fogo na Diversidade, Composição e Carbono das Árvores em Períodos Sazonais das Florestas no Sul da Amazónia teve ainda a participação de investigadores do Campus de Confresa do Instituto Federal de Mato Grosso Geography, Faculty of Science, Environment and Economy, da Universidade de Exeter. O projeto foi também financiado pelo Instituto Serrapilheira, que é uma instituição privada sem fins lucrativos para a promoção da ciência no Brasil. Desde o início das suas atividades, em 2017, já apoiou financeiramente mais de 300 projetos de ciência e de comunicação da ciência, com mais de 90 milhões de reais investidos (cerca de 14 milhões de euros).

Por Fabíola Sinimbú, Agência Brasil, in EcoDebate

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