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Quer salvar a floresta? Não se esqueça das… térmitas!

Por vezes, os heróis da natureza são pequenos, castanhos, comem madeira e são temidos por todos

Se lhe disserem que estão a transplantar térmitas para uma floresta, a sua primeira reação pode ser: “Estão loucos?” Mas não, não é loucura — é ciência. E, como mostra um novo estudo publicado no Journal of Applied Ecology, pode ser mesmo a chave para garantir o sucesso das florestas tropicais regeneradas.

Uma equipa liderada pelo ecologista Baptiste Wijas, do Cary Institute of Ecosystem Studies (EUA), e também ligado à Universidade de Queensland (Austrália), decidiu ir além do habitual “plantar árvores é suficiente” e questinou: E os outros inquilinos da floresta, não fazem falta?

Um monte de Microcerotermes em forma de ovo. Embora as térmitas estivessem presentes nas florestas tropicais replantadas, trabalhavam mais lentamente do que nas florestas antigas. Foto: Amy Zanne/Instituto Car

Uma floresta sem térmitas é como uma casa sem canalização

O estudo analisou florestas no norte da Austrália, incluindo o belíssimo Daintree Rainforest — uma espécie de Jurassic Park sem os dinossauros. Ali, três zonas diferentes foram monitorizadas: uma floresta antiga e duas áreas que foram replantadas em 2010 e 2014, depois de terem sido usadas para plantações de ananás, banana e óleo de palma.

Durante quatro anos, os investigadores colocaram blocos de madeira no solo e esperaram para ver quem aparecia: fungos, térmitas, ou ambos. E não, não foi um trabalho de gabinete. Foi suor, calor tórrido (até 45ºC!), plantas agressivas, inundações, incêndios e algo chamado “ciclone zombie” — que parece saído de um filme da Marvel, ou seja, parece que está acabada e de repente volta a “atacar”. Portanto, é como regressasse do mundo dos mortos.

Fungos resistentes, térmitas preguiçosas

O que descobriram foi inesperado. Os fungos, esses trabalhadores incansáveis da decomposição, estavam a fazer o seu trabalho tanto nas florestas velhas como nas replantadas (embora com menos entusiasmo nas mais jovens). Já as térmitas, verdadeiras recicladoras de madeira e engenheiras do subsolo, estavam a marcar passo.

Mesmo 12 anos após a reflorestação, os blocos de madeira estavam a demorar mais a decompor-se nas áreas replantadas do que na floresta antiga. A culpa pode ser das colónias de térmitas ainda pequenas, pouco diversas ou pouco experientes. Afinal, também é preciso tempo para montar uma equipa de construção eficiente.

Floresta Tropical Daintree, na Austrália. Crédito: Baptiste Wijas

Reflorestar não é só plantar árvores

“A maior parte das pessoas pensa que basta plantar uma diversidade de árvores e a floresta volta ao normal”, diz Wijas. “Mas ninguém pensa em repor os outros organismos que fazem a floresta funcionar.”

E é aqui que a ideia fica verdadeiramente fora da caixa (ou fora do tronco): e se, em vez de esperar décadas, trouxéssemos as térmitas diretamente das florestas antigas? Com casa e tudo! A proposta dos cientistas é transplantar toros de madeira — recheados de fungos, térmitas e outros bicharocos benéficos — para estas florestas jovens. Uma espécie de Airbnb para decompositores.

Há até quem esteja a ponderar levar ninhadas inteiras de térmitas para lá, como quem muda uma aldeia inteira de uma floresta para outra.

Térmitas: vilãs injustiçadas?

Investigadores colocaram blocos de madeira em florestas tropicais antigas e replantadas para medir a atividade das térmitas e dos fungos. Crédito: Amy Zanne/Instituto Cary

“Os gestores florestais nem sempre gostam da ideia de pôr térmitas no terreno,” admite Wijas. “Mas apenas 3% das espécies de térmitas causam danos em casas. As outras 97% são completamente inocentes — e extremamente úteis.”

Úteis como? Além de reciclarem madeira, as térmitas estão associadas a bactérias que fixam azoto, um nutriente essencial para o crescimento das árvores. E há hipóteses de que estejam até a armazenar carbono nos seus ninhos, contribuindo para travar as alterações climáticas.

“Estamos a tentar perceber se os ninhos das térmitas são depósitos de carbono mais eficazes do que pensávamos,” diz Wijas. “É possível que armazenem mais carbono do que libertam. Mas ainda não sabemos ao certo.”

Quando as térmitas voltam, quem mais regressa?

Zanne, coautora do estudo e investigadora sénior no Cary Institute, deixa no ar uma última reflexão: se as térmitas voltarem em força às florestas regeneradas, será que outros animais — como formigas, lagartos e até pequenos mamíferos que se alimentam delas — também regressam?

“Termitas e fungos são absolutamente essenciais para o funcionamento das florestas,” sublinha. “Talvez seja hora de começar a tratá-las como tal.”

Da próxima vez que ouvir alguém a dizer “não queremos térmitas aqui!”, talvez valha a pena argumentar, mas a floresta agradece!

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