Cerca de metade dos estudantes do ensino secundário e universitário de sete países europeus, com Porgugal incluído estão preocupados com a utilização de software de deteção de plágio. Segundo os investigadores, os seus receios conduzem a comportamentos contraproducentes e a uma aprendizagem mal orientada
Um estudo conduzido pelo Departamento de Economia Alimentar e dos Recursos da Universidade de Copenhaga procurou desenvolver uma melhor compreensão empírica das preocupações com o software de comparação de textos (TMS) entre estudantes da Suíça, Dinamarca, Hungria, Irlanda, Lituânia, Portugal e Eslovénia.
Quando questionados sobre o que achavam da utilização de software de plágio pelas suas instituições, 47% dos estudantes do ensino secundário e 55% dos estudantes universitários participantes no estudo manifestaram a sua preocupação com a possibilidade de serem monitorizados. Preocupações que vão além do medo de serem apanhados a fazer batota.
Segundo o investigador pós-doutorado Mads Goddiksen, autor principal do estudo, estas preocupações resultam em grande parte da incerteza sobre a forma como o software é utilizado e o que conta como batota. “É paradoxal que uma tecnologia destinada a garantir a integridade académica esteja a causar preocupações desnecessárias entre os estudantes. A nossa investigação mostra claramente que a incerteza sobre o funcionamento do software, a forma como é utilizado e o que constitui plágio leva a preocupações e a práticas de escrita contraproducentes”, afirma o investigador.
Escrever para ser mais esperto que o software, não para aprender
Nas entrevistas, os alunos descreveram como evitam reutilizar fontes de trabalhos anteriores ou reescrevem desnecessariamente os textos para “enganar” o software — um desenvolvimento contra o qual Mads Goddiksen adverte: “O maior problema não é a preocupação em si, mas o facto de os alunos perderem a concentração em escrever bem e de forma ética. Em vez disso, o objetivo é evitar que o software assinale algo como problemático. Isto afeta a qualidade dos seus trabalhos e a sua formação geral”, explica.
Mads Goddiksen sublinha que o software de deteção de plágio não pode determinar de forma independente se houve plágio — apenas assinala as sobreposições de texto. Compreender esta distinção é crucial. “Não há nada de intrinsecamente errado em parafrasear ou reproduzir conteúdos de outras fontes num trabalho — isto é, em grande parte, o que a escrita académica envolve, desde que seja feita de forma transparente. No entanto, atualmente, essas práticas podem aparecer nas verificações de plágio porque o software identifica semelhanças nas frases e formulações. Isto deixa os estudantes nervosos e torna o software ineficaz se for utilizado isoladamente”, explica.
No entanto, muitos alunos acreditam erradamente que só o software determina o que conta como plágio, embora não seja esse o caso. Este mal-entendido faz com que muitos alterem o seu comportamento de escrita para se adaptarem ao controlo percebido. Por exemplo, um estudante dinamarquês afirmou:
“Tenho muito medo de me arriscar com estas coisas. Por isso, faço muitas notas de rodapé, cerca de 80-90 num trabalho de 12 páginas. Ainda não recebi nenhuma crítica, mas acho que não é isso que se deve fazer.”
Diretrizes mais claras e prática consistente
Os investigadores sublinham que a solução não é abolir o software de deteção de plágio, mas sim utilizá-lo corretamente.
“A tecnologia pode ser uma ferramenta útil para identificar potenciais problemas, mas exige que as instituições a comuniquem claramente e assegurem que os professores e os alunos compreendam as limitações do software”, explica o investigador. O estudo recomenda que os estudantes recebam mais instruções sobre escrita académica e práticas de citação adequadas. As instituições de ensino e os professores também têm a responsabilidade de esclarecer o que consideram plágio.
“Propomos uma combinação de instruções e procedimentos mais claros sobre como utilizar o software. Os educadores têm de intervir e explicar onde estão os limites do plágio para trabalhos específicos e como utilizam o software. Isto não só aliviará as preocupações como servirá para garantir que a tecnologia apoia a aprendizagem em vez de a prejudicar”, afirma o Professor Associado Mikkel Willum Johansen do Departamento de Educação Científica, coautor do estudo.
Atualmente, muitas empresas oferecem ferramentas que permitem não só identificar sobreposições textuais, mas também determinar se os textos podem ter sido gerados por inteligência artificial (por exemplo, ChatGPT). Esta nova forma de controlo apresenta desafios também para as instituições de ensino.
“O problema é que estes sistemas apenas podem sugerir se algo parece ter sido gerado por IA, mas não o podem afirmar com certeza. Ao contrário do software de deteção de plágio, não dispõem de um texto original para comparação. Por esta razão, os sistemas de deteção de IA são muito pouco fiáveis. Este fato sublinha a importância de as instituições terem procedimentos claros e um consenso sobre a forma de utilizar a tecnologia, de modo a evitar penalizar os estudantes injustamente”, conclui Mikkel Willum Johansen.