Investigadores afirmam que o setor da construção, responsável por 37% das emissões globais que contribuem para as alterações climáticas, poderia reduzir drasticamente o seu impacto ambiental recorrendo a métodos de construção antigos em vez de depender exclusivamente da arquitetura “verde” moderna.
Esta é a conclusão de um estudo conduzido pelo professor Florian Urban e por Barnabas Calder, que analisaram o consumo energético de edifícios ao longo de 4.500 anos de história arquitetónica. O trabalho, apresentado no livro Form Follows Fuel: 14 Buildings from Antiquity to the Oil Age, é o primeiro a calcular de forma abrangente a energia envolvida na construção e operação de edifícios históricos, desde a Grande Pirâmide de Gizé até aos aeroportos contemporâneos.
Segundo os investigadores, a disponibilidade de energia moldou a arquitetura mais do que qualquer outro fator. A transição para combustíveis fósseis no século XVII revolucionou radicalmente a construção, transformando práticas que persistem até hoje. “A arquitetura contemporânea é o resultado de quatro séculos de esforço para maximizar o uso de combustíveis fósseis na construção e operação dos edifícios”, explica Urban.
O estudo revela ainda que alguns edifícios modernos celebrados pelo design minimalista são surpreendentemente ineficientes em termos energéticos. O Edifício Seagram, em Nova Iorque, recebeu apenas 3 em 100 na classificação de eficiência energética da EPA, consumindo mais energia na construção do que a extração, transporte e colocação de 5,5 milhões de toneladas de pedra da maior pirâmide do Egito. Por metro quadrado, o Seagram utilizou quatro vezes mais energia do que o escritório americano médio em 2012.
Em contraste, construções pré-modernas, como as blackhouses escocesas, destacam-se pela eficiência térmica, utilizando apenas materiais locais e estratégias de design passivo, sendo totalmente sustentáveis e recicláveis. “Em termos de consumo energético, o mundo nunca teve tantos faraós”, comenta Urban, sublinhando o contraste com a realidade dos edifícios modernos.
O estudo fornece métricas concretas que mostram que edifícios de pedra duradouros consomem significativamente menos energia ao longo do seu ciclo de vida do que construções de tijolo semelhantes, oferecendo orientações práticas para arquitetos contemporâneos. Os autores defendem que a sustentabilidade não depende necessariamente de avanços tecnológicos, mas pode ser alcançada ao revisitar técnicas tradicionais, especialmente num contexto de emergência climática crescente.
Sobre os autores
Florian Urban é professor e diretor da História da Arquitetura e Estudos Urbanos na Glasgow School of Art. Especialista em planeamento urbano e história arquitetónica, é autor de diversos livros sobre habitação e design urbano histórico.
Barnabas Calder lidera o History of Architecture Research Cluster na Universidade de Liverpool, focando-se na relação entre arquitetura e energia ao longo da história. Entre os seus livros destacam-se Raw Concrete: The Beauty of Brutalism e Architecture: From Pre-history to Climate Emergency.
Referência do livro:
Form Follows Fuel: 14 Buildings from Antiquity to the Oil Age, Florian Urban & Barnabas Calder, Routledge, 2025.