Embora seja expetável a mudança de emprego ao longo da carreira, poucos estudos avaliaram os efeitos da contratação de trabalhadores bumerangue — aqueles que regressam à empresa após outra experiência profissional. Como será a reação de quem ficou na empresa?
Um novo estudo realizado na Universidade da Califórnia aponta os benefícios que estes empregados podem trazer para as organizações e também as dificuldades que encontram nomeadamente a resistência dos antigos colegas, por um lado porque podem sentir ressentimento por se sentirem lesados ou prejudicados com a sua saída, e por outro, caso regressem com um estatuto mais elevado. Cabe ao “bumerangue” saber lidar com a situação, esforçar-se para criar novas relações e contribuir positivamente para a organização.
“A eficácia no trabalho depende muitas vezes da ajuda dos colegas”, afirmou Gina Dokko, professora da Graduate School of Management da UC Davis e coautora do estudo. “O nosso trabalho mostra que os bumerangues dão mais do que recebem”. Para avaliar os seus efeitos, os investigadores analisaram uma amostra das carreiras dos jogadores da Associação Nacional de Basquetebol, onde, ao contrário da maioria das empresas, é fácil acompanhar os dados sobre a movimentação dos jogadores de equipa para equipa e a forma como interagem uns com os outros. Na principal liga de basquetebol profissional masculina, quase metade dos jogadores muda de equipa em cada época, sendo que 17% regressam às suas equipas antigas. Estudos anteriores estimam que os boomerangs em todas as empresas variam entre 10% e 20%.
Os investigadores analisaram todos os bumerangues que retornaram às antigas equipes da NBA de 1996 a 2019. Também estudaram dados que remontam a 1970 para garantir que capturaram a primeira experiência de emprego dos jogadores na NBA, disse Gina Dokko. Além da análise quantitativa, os investigadores verificaram que os jogadores bumerangues se preocupam em estabelecer relações com os novos colegas. Por exemplo, Tyson Chandler, estrela da NBA, quando regressou aos Dallas Mavericks após três anos afastado, falou nas notícias sobre o seu contributo, dizendo: “Sou um jogador mais maduro, que entende o momento. Muito mais confiante. A primeira vez que vim para cá, estava a tentar encontrar o meu lugar, mas já sei o que posso dar à minha equipa”.
O trabalho de uma equipa desportiva é altamente interdependente, sendo que o sucesso exige cooperação, à semelhança deo que sucede em muitos contextos empresariais. Embora seja difícil determinar a razão pela qual os atuais membros da equipa possam não querer ajudar os colegas que regressam, os investigadores pensaram que o ressentimento poderia desempenhar um papel importante. Os investigadores ponderaram que os antigos colegas possam ter considerado a saída do colega bumerangue perturbadora, “tornando-os mais susceptíveis de manter sentimentos negativos persistentes que reduzem a sua propensão para o ajudar”.
Para explorar esta ideia, os investigadores demonstraram que os antigos colegas eram menos prestáveis para com os “bumerangues” quando já tinham trabalhado juntos e que o desempenho da equipa sofria após o “bumerangue” ter saído. Outra fonte de ressentimento poderia ocorrer se o estatuto do bumerangue aumentasse durante a sua ausência.
Em conjunto, estas descobertas sugerem que, mesmo num ambiente altamente profissional e de alto risco como a NBA, o comportamento pode ser moldado por várias considerações. O estudo, “Can You Go Home Again? Performance Assistance Between Boomerangs and Incumbent Employees” foi publicado antecipadamente online na revista Organization Science neste outono.
Os co-autores são Thorsten Grohsjean, do Departamento de Gestão e Tecnologia e ICRIOS, da Universidade Bocconi, Milão, Itália; e Philip Yang, da Faculdade de Administração e Economia, da Universidade de Paderborn, Paderborn, Alemanha.