Investigadores da Universidade Estatal de Dakota do Sul criam filmes biodegradáveis a partir de restos de videiras, com potencial para substituir embalagens plásticas
Num momento em que o mundo enfrenta uma crise global de poluição por plástico, uma equipa de investigadores nos Estados Unidos desenvolveu uma alternativa promissora e amiga do ambiente. Utilizando restos de videiras, cientistas da Universidade Estatal de Dakota do Sul (South Dakota State University – SDSU) conseguiram criar um material semelhante ao plástico, biodegradável e até mais resistente do que os sacos plásticos convencionais.
A investigação, liderada pelo professor associado Srinivas Janaswamy, especialista em ciência alimentar, foca-se na valorização de subprodutos agrícolas, convertendo-os em materiais úteis para combater o desperdício de plástico. O mais recente avanço do seu laboratório envolve o uso de canas de videira — os ramos lenhosos das videiras que são normalmente descartados após a colheita.
Filme biodegradável que desaparece em 17 dias
O material desenvolvido tem características notáveis: é transparente, robusto e decompõe-se no solo em apenas 17 dias, sem deixar resíduos nocivos. Publicado na revista Sustainable Food Technology, o estudo realça o potencial destes filmes para aplicações em embalagens alimentares, permitindo a visibilidade dos produtos e mantendo a resistência necessária para proteger os alimentos.
“Estes filmes demonstram um grande potencial para embalagens alimentares, com a vantagem de serem biodegradáveis e provenientes de resíduos agrícolas”, afirma Janaswamy.
Uma colaboração entre ciência alimentar e viticultura
A ideia de usar canas de videira surgiu após uma apresentação do professor Janaswamy sobre bioprodutos sustentáveis. Anne Fennell, professora distinguida de agronomia na mesma universidade e especialista em viticultura, sugeriu a utilização das canas de videira — uma fonte rica em celulose, com baixo teor de humidade e amplamente disponível em vinhas após a poda.
“Todos os anos retiramos a maior parte da biomassa das videiras. Estas canas são muitas vezes compostadas, trituradas ou até queimadas. Pensei: por que não dar-lhes um uso mais nobre?”, explicou Fennell.
Com esta colaboração, os investigadores extraíram a celulose das canas, um biopolímero abundante nas plantas e fundamental na produção dos filmes plásticos alternativos. Os testes mostraram que o material obtido tem uma resistência à tração superior à dos sacos plásticos tradicionais, além de ser visualmente atrativo e ecologicamente seguro.
Uma resposta ao flagelo do plástico
A urgência deste tipo de inovação é evidente. A maioria dos plásticos usados em embalagens provém de fontes não renováveis e demora centenas de anos a degradar-se. Apenas 9% do plástico produzido globalmente é reciclado, e a presença crescente de microplásticos nos oceanos, no solo e até no corpo humano levanta sérias preocupações sobre os seus impactos a longo prazo.
O trabalho de Janaswamy insere-se numa abordagem mais ampla de economia circular, em que os resíduos agrícolas são reaproveitados para criar novos produtos, reduzindo a dependência de recursos fósseis e o impacto ambiental.
“O meu sonho é criar um saco biodegradável que possa substituir os sacos plásticos de uso único”, conclui Janaswamy.
Este projeto foi financiado pelo Instituto Nacional de Alimentação e Agricultura do Departamento de Agricultura dos EUA, e pela Fundação Nacional para a Ciência.


