Sabia que salsa, coentros e pimentos podem ser cultivados em vidro de garrafas de cerveja e de refrigerantes reciclados?
O estudo piloto foi apresentado na reunião da American Chemical Society (ACS) e descobriu que substituir parcialmente o solo dentro de um vaso por fragmentos de vidro reciclado não só acelera o desenvolvimento da planta como reduz o crescimento de fungos.
“Estamos a tentar reduzir o desperdício de aterros sanitários ao mesmo tempo que cultivamos vegetais comestíveis”, diz Andrea Quezada, uma estudante de pós-graduação em química no laboratório Nanoworld Vanegas ao apresentar a pesquisa da equipa na reunião da American Chemical Society. “Se isto for viável, então poderemos introduzir solos à base de vidro em práticas agrícolas.”
Para realizar esta experiência, os investigadores obtiveram partículas de vidro reciclado de uma empresa que recolhe garrafas em aterros sanitários, após trituradas em partículas e arredondadas as bordas, o produto final é suave o suficiente para que as pessoas o possam manusear sem se cortar. Da mesma forma, as raízes das plantas podem facilmente crescer ao redor dos pedaços de vidro sem serem danificadas.
Em testes iniciais, os investigadores avaliaram as qualidades semelhantes às do solo, como compactação e retenção de água, de três fragmentos de vidro de tamanhos diferentes. Descobriram que um tamanho semelhante a grãos de areia grossa tinha caraterísticas parecidas, como permitir que o oxigénio atingisse as raízes, mantendo níveis de humidade suficientes, que poderiam ser ideais para o cultivo de plantas.
Agora, Andrea Quezada está a avaliar o material de vidro reciclável como um substituto viável para o solo. Numa estufa no campus, está a cultivar plantas de coentro e pimentão. Uma variedade de vasos contém 100% de solo tradicional e outros 100% de vidro reciclado. Vasos com mais solo têm níveis mais altos de nutrientes necessários para o crescimento das plantas, incluindo nitrogénio, fósforo e potássio, em comparação com aqueles com mais vidro. Mas há pouca variação no nível de pH entre ambos, o que é um resultado promissor.
Os primeiros resultados sugerem que as plantas cultivadas em vidro reciclado têm taxas de crescimento mais rápidas e retêm mais água em comparação com aquelas cultivadas em solo 100% tradicional. “Uma proporção de peso de mais de 50% de partículas de vidro para solo parece ser melhor para o crescimento das plantas em comparação com as outras misturas que testámos”, contabiliza Julie Vanegas, cientista de nanomateriais, da Universidade do Texas. No entanto, os investigadores têm de esperar até a época da colheita para confirmar qual é a mistura de solo que produz os maiores rendimentos — e os produtos mais saborosos.
Outro resultado notável é que vasos com 100% de solo desenvolveram um fungo que atrofiou o crescimento das plantas. A investigadora levanta a hipótese de que o fungo pode impactar a absorção de nutrientes pelas raízes. No entanto, nos vasos que incluíam alguma quantidade de vidro reciclado não cresceram fungos. Os investigadores continuam a investigar e a colher dados para determinar por que isso pode acontecer.
Estas conclusões são particularmente promissores para Andrea Quezada porque o estudo foi feito sem fertilizantes, pesticidas ou fungicidas. Da sua experiência a trabalhar na agricultura, observa que muitos dos produtos químicos aplicados na terra podem ter algum impacto nas pessoas, como por exemplo, junto dos familiares que trabalham ou vivem em comunidades agrícolas. “Acho que é realmente importante tentar minimizar o uso de quaisquer produtos químicos que possam afetar negativamente a nossa saúde. Se formos capazes de reduzi-los e ajudar a comunidade recolhendo materiais recicláveis, então podemos dar às pessoas uma melhor qualidade de vida.”
