Além de produzirem energia limpa, os parques eólicos no mar têm potencial para ajudar a recuperar ecossistemas frágeis, como recifes de coral, pradarias marinhas, leitos marinhos e zonas húmidas costeiras – habitats essenciais para a biodiversidade, para as populações de peixes e para a resiliência climática.
Esta é a principal conclusão de um estudo publicado na revista BioScience por uma equipa internacional de cientistas. O trabalho surge num momento crucial, em que as metas globais para a natureza, como o objetivo da ONU de restaurar 30% dos ecossistemas degradados até 2030, estão em risco devido à falta de financiamento e vontade política.
Restaurar a natureza com apenas 1% do investimento
Os investigadores propõem uma solução concreta: investir apenas 1% dos valores globais destinados à energia eólica offshore até 2050 seria suficiente para financiar a restauração de milhões de quilómetros quadrados de ecossistemas marinhos, incluindo mangais, pradarias de ervas marinhas e recifes de ostras.
“O setor eólico offshore tem uma oportunidade única de se tornar a primeira indústria marítima a contribuir positivamente para a restauração da natureza em grande escala”, afirma Christiaan van Sluis, autor principal e representante do programa The Rich North Sea. “Se integrarmos requisitos inteligentes de biodiversidade nos processos de licenciamento e concursos públicos desde já, podemos inverter a perda de biodiversidade com apenas uma pequena parte do investimento total.”
Ganhos para o ambiente e para as pessoas
Restaurar os ecossistemas marinhos traz benefícios não só para a natureza, mas também para as pessoas. Ambientes costeiros saudáveis ajudam a capturar carbono, protegem as zonas costeiras de tempestades e erosão, e mantêm a pesca sustentável. Segundo o estudo, cada dólar investido na restauração da natureza pode gerar entre 2 e 12 dólares em benefícios sociais.
Com o setor da energia eólica offshore previsto para crescer de 56 gigawatts em 2021 para cerca de 2.000 gigawatts até 2050, há uma oportunidade clara: “Se integrarmos a restauração marinha neste crescimento, podemos mesmo alcançar as metas globais de biodiversidade”, diz Van Sluis.
Uma questão de políticas públicas
Os autores do estudo apelam aos governos para que tornem obrigatória a integração da restauração da natureza marinha nos projetos eólicos offshore. Isto pode ser feito através de exigências nos licenciamentos ou de critérios não relacionados com o preço nos concursos públicos, garantindo que parte do investimento vai diretamente para a biodiversidade.
Vários países europeus, como os Países Baixos, a Dinamarca e o Reino Unido, já utilizam sistemas centralizados de concurso que podem incluir facilmente critérios ambientais. Uma abordagem coordenada a nível internacional, com base legal, permitiria uma implementação mais justa, eficaz e em escala, evitando que o preço seja o único fator decisivo em detrimento dos ecossistemas.
Karen Vennik, diretora comercial da Van Oord, empresa envolvida na construção de infraestruturas marítimas, reforça: “Nos Países Baixos, incluir critérios ambientais nos concursos tem dado bons resultados. Está na hora de expandirmos a restauração marinha como parte do desenvolvimento global da energia eólica no mar.”
Sobre o estudo e as entidades envolvidas
A investigação foi conduzida no âmbito do programa The Rich North Sea, uma iniciativa das organizações não-governamentais Natuur & Milieu e North Sea Foundation. O programa trabalha em estreita colaboração com empresas de energia, operadores de parques eólicos e cientistas para promover a biodiversidade nos parques eólicos offshore, especialmente ao largo da costa dos Países Baixos. Conta com o apoio da Loteria Postal Holandesa.
O Instituto Real dos Países Baixos para Investigação do Mar (NIOZ), que também participou no estudo, é o centro nacional de investigação oceanográfica. O seu objetivo é aprofundar o conhecimento sobre os sistemas marinhos, a sua evolução, o papel que desempenham no clima e na biodiversidade, e como podem oferecer soluções sustentáveis para a sociedade.


