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O impacto dos pesticidas nas abelhas é mais complexo do que se esperava

Um novo estudo revela efeitos distintos da exposição a pesticidas neonicotinóides em diferentes partes do corpo dos abelhões, explicando por que razão estes têm efeitos nocivos diversos e salientando a necessidade de testes de segurança mais sensíveis

Os investigadores da Queen Mary University of London descobriram que o pesticida neonicotinóide clotianidina afeta diferentes partes do corpo dos abelhões. Este age de uma forma semelhante à nicotina. Atua nos recetores do sistema nervoso dos insetos, gerando uma intoxicação neurológica. Este novo estudo mostra que os seus impactos estão longe de ser uniformes, afectando o cérebro, as pernas e os tecidos semelhantes aos rins de formas diferentes prejudicando as funções essenciais de cada tecido.

Ao expor os zangões a uma dose realista de clotianidina, os cientistas descobriram diferenças dramáticas na atividade dos genes nos tecidos do corpo – 82% das alterações na atividade dos genes eram específicas dos tecidos.

“Cada tecido que examinámos foi severamente afetado pelo pesticida”, explica o Yannick Wurm. “Ver os impactos da exposição a pesticidas em todo o corpo ajuda a explicar os problemas multifacetados que as abelhas expostas a este pesticida revelam, desde o movimento, capacidade de aprendizagem reduzida até à imunidade comprometida”.

Os pesticidas neonicotinóides, como a clotianidina, são amplamente utilizados para proteger as culturas das pragas. No entanto, estudos anteriores mostraram que mesmo doses baixas podem ameaçar a sobrevivência de insetos benéficos. Neste estudo, os investigadores aplicaram diagnósticos moleculares de alta resolução – habitualmente utilizados em biomedicina, mas raramente em questões ambientais – para identificar as vias moleculares específicas perturbadas pela exposição a pesticidas. Por exemplo, enquanto os genes cerebrais envolvidos no transporte de iões foram afetados, o fémur posterior (crucial para o movimento) mostrou alterações nos genes específicos dos músculos e as actividades dos genes de desintoxicação dos túbulos de Malpighi (um equivalente funcional dos rins) diminuíram.

“Os resultados sugerem que as avaliações tradicionais dos riscos dos pesticidas, que frequentemente não têm em conta os danos específicos dos tecidos, não captam totalmente os impactos sub-letais nos polinizadores”, afirma Federico López-Osorio, coautor do estudo.

Consequências graves para os tecidos específicos suscitam um apelo à ação

Os investigadores sublinham que estas alterações, semelhantes aos padrões observados no envelhecimento e no cancro, indicam uma ameaça profunda à saúde das abelhas – afetando todos os tecidos de forma prejudicial.

“Aplicamos pesticidas sem compreender totalmente os seus efeitos nos insetos polinizadores benéficos”, afirmou a autora principal, Alicja Witwicka. “As nossas descobertas mostram que todos os tecidos ficam comprometidos prejudicando o seu papel vital, razão pela qual os efeitos são tão devastadores e generalizados. Esta investigação é um apelo à ação para repensar a forma como avaliamos, regulamos e aplicamos os pesticidas, não só para proteger os polinizadores mas também os ecossistemas que deles dependem”.

Este estudo sublinha a necessidade urgente de reavaliar as práticas de segurança dos pesticidas para evitar mais danos aos polinizadores naturais – espécies essenciais para a produção de muitos frutos e nozes que comemos e para a manutenção da biodiversidade. Surge numa altura em que os cidadãos e os governos de todo o mundo estão cada vez mais preocupados com a perda de biodiversidade, estabelecendo objetivos ambiciosos para inverter o declínio e restaurar a saúde dos ecossistemas.

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