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Os chimpanzés são geneticamente adaptados aos habitats locais e a infecções como a malária

Quem sabe se não serão estes grandes símios que nos darão a fórmula para combater este parasita que ataca milhões se seres humanos anualmente? Parece que eles já sabem lidar com a doença

Os chimpanzés possuem adaptações genéticas que os ajudam a prosperar nos seus diferentes habitats de floresta e savana, algumas das quais podem proteger contra a malária, de acordo com um estudo realizado por uma equipa internacional liderada por investigadores da UCL.

A malária, também conhecida como paludismo, é uma doença parasitária do sangue, provocada por um protozoário do género plasmodium. Já há duas vacinas a serem comercializadas, mas ainda há muito a saber sobre como a combater.

Os chimpanzés são os nossos parentes vivos mais próximos, partilhando mais de 98% do seu ADN com os seres humanos, e os cientistas afirmam que as suas descobertas, publicadas na revista Science, podem não só ensinar-nos sobre a nossa própria história evolutiva, mas também sobre a biologia da infeção por malária nos seres humanos.

Estes grandes símios estão em perigo de extinção devido à destruição do seu habitat, à caça furtiva e a doenças infecciosas. Os resultados deste estudo podem também contribuir para a sua conservação, uma vez que sugerem que as alterações climáticas e de utilização dos solos terão provavelmente impactos diferentes em diferentes grupos de chimpanzés.

Aida Andrés, autora principal do estudo do Instituto de Genética da UCL, afirmou: “Existem apenas algumas centenas de milhares de chimpanzés vivos, mas encontram-se em paisagens muito diferentes, desde a África Oriental até ao extremo oeste do continente, incluindo densas florestas tropicais e áreas abertas de bosques e savanas. Isto torna-os únicos, porque, à exceção dos humanos, todos os outros macacos vivem exclusivamente em florestas”. A investigadora disse ainda que com este estudo mostraram que, além de adquirirem adaptações comportamentais, as diferentes populações de chimpanzés desenvolveram diferenças genéticas para sobreviverem nos seus diferentes habitats locais.

“Como os chimpanzés enfrentam ameaças em toda a sua área de distribuição, incluindo alterações ambientais no clima e deslocações devido a pressões humanas, é importante que a sua diversidade genética seja conservada para manter a sua resiliência e garantir a sobrevivência a longo prazo desta espécie inteligente e fascinante”.

Os cientistas encontraram provas de adaptação genética em genes relacionados com certos agentes patogénicos (microrganismos causadores de doenças) entre os chimpanzés que vivem em florestas, onde existe uma elevada concentração de agentes patogénicos, sendo as provas mais fortes encontradas em genes ligados à malária. Isto inclui dois genes que também são conhecidos por serem responsáveis pela adaptação e resistência à malária nos humanos: GYPA e HBB, sendo este último responsável pela anemia falciforme nos seres humanos.

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Os resultados sugerem que a malária é provavelmente uma doença importante para os chimpanzés selvagens da floresta e que a adaptação ao parasita da malária ocorreu, independentemente, através de alterações nos mesmos genes nos chimpanzés e nos seres humanos.

O primeiro autor, Harrison Ostridge do Instituto de Genética da UCL, afirmou: “As estreitas semelhanças genéticas entre os grandes símios resultaram em doenças que passaram dos símios para os seres humanos, como a malária e o VIH/SIDA, pelo que o estudo dos chimpanzés selvagens é extremamente útil para compreender estas e outras doenças infecciosas partilhadas pelos seres humanos, podendo ajudar a desenvolver novos tratamentos ou vacinas”.

Para o cientista encontrar provas de adaptação à malária nos chimpanzés ligadas aos mesmos genes que afetam a resistência à malária nos seres humanos é surpreendente de um ponto de vista evolutivo, pois sugere que pode haver formas limitadas de desenvolver resistência ao parasita da malária.

O estudo sugere que os chimpanzés também se adaptaram aos seus habitats de savana, que têm temperaturas mais elevadas, menor pluviosidade e menos disponibilidade de alimentos

Isto mostra que o estudo dos chimpanzés da savana pode esclarecer a forma como os antepassados humanos se adaptaram a habitats semelhantes há milhões de anos, quando se mudaram da floresta africana para a savana.

O coautor e codiretor do PanAf, Hjalmar Kuehl, do Museu de História Natural de Senckenberg, Alemanha, comentou: “Este estudo inovador sobre as adaptações locais dos chimpanzés não poderia ser realizado sem a extraordinária colaboração de uma equipa internacional de cientistas que trabalhou incansavelmente para recolher dados não invasivos, incluindo amostras fecais, em países de toda a área de distribuição dos chimpanzés”. A coautora e co-diretora da PanAf, Mimi Arandjelovic, do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva, Alemanha, acrescentou: “Convidamos todos os interessados na nossa investigação a contribuírem como cientistas da comunidade em ChimpandSee.org, onde se pode ajudar a anotar os vídeos recolhidos juntamente com as amostras genéticas de toda a área de distribuição dos chimpanzés”.

Como foi efetuado o estudo:

Para estudar a adaptação genética, a equipa internacional de investigadores, de instituições de toda a África, Europa e América do Norte, precisava de obter ADN dos chimpanzés selvagens, ameaçados de extinção e altamente esquivos, sem os perturbar. Para o efeito, utilizaram amostras fecais recolhidas no âmbito do Programa Pan-Africano: O Chimpanzé Cultivado (PanAf). Métodos laboratoriais e computacionais de ponta permitiram aos cientistas estudar o ADN dos chimpanzés nestas amostras e efetuar o maior estudo de adaptação local em mamíferos selvagens ameaçados de extinção até à data.

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Os investigadores analisaram os exomas (a parte do genoma que codifica as proteínas) de 828 chimpanzés selvagens, 388 dos quais foram incluídos na análise final, representando 30 populações diferentes de chimpanzés em toda a área geográfica e ecológica das quatro subespécies de chimpanzés. Os cientistas compararam a informação genética com dados sobre o ambiente local em que vive cada população de chimpanzés, identificando variantes genéticas que se destacam por serem muito mais frequentes em determinadas regiões do que noutras e que provavelmente conferem um benefício aos portadores da variante genética em habitats específicos.

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