#PorUmMundoMelhor

Teresa Cotrim

Qual o nível de arsénio presente na água da chuva?

Há boas notícias. Se tem receio de ser envenenado na próxima chuvada, relaxe. Parece que este elemento tóxico está mais diluído na atmosfera do que se pensava

O arsénio é um oligoelemento que se encontra imediatamente abaixo do fósforo – que é essencial para todos os organismos vivos – na tabela periódica. Esta relação química estreita faz com que as células nem sempre consigam distinguir os dois elementos. “A toxicidade do arsénio baseia-se neste risco de confusão”, afirma Lenny Winkel, professor do Instituto de Biogeoquímica e Dinâmica de Poluentes da ETH Zurique e do instituto de investigação aquática Eawag

Recolha de amostras a 2877 metros acima do nível do mar

Há muitos anos que Lenny Winkel e a sua equipa se interessam por esta toxina ambiental, da qual se estima que cerca de 31 toneladas orbitam na atmosfera da Terra. Para conhecer melhor o comportamento e a distribuição do arsénico no ar, os investigadores realizaram uma vasta campanha de medições na estação de investigação do Pic du Midi, nos Pirenéus. A estação está localizada a 2877 metros acima do nível do mar e, por conseguinte, permite medições que não são afetadas por fontes locais de poluição.

No Pic du Midi, os investigadores descobriram, entre outras coisas, que as nuvens contêm, em média, muito mais arsénico do que a água da chuva. Mas quem está agora preocupado com a possibilidade de ser envenenado pela próxima chuva pode ficar descansado: “O arsénico está muito diluído na atmosfera”, diz Lenny Winkel. De fato, os investigadores tiveram de otimizar o seu método de medição para poderem detetá-lo. “O limite de medição é agora de 1 a 2 nanogramas por litro, o que é até vinte vezes inferior ao limite de medição dos métodos anteriores”, afirmam os investigadores no seu documento técnico recentemente publicado.

Padrões de transporte caraterísticos

Um modelo sofisticado dos movimentos das massas de ar e análises químicas das nuvens e da água da chuva permitiram aos investigadores identificar vários padrões de transporte caraterísticos. E assim descobrir, para cada amostra, a origem do arsénico. Se uma amostra contivesse muito sódio, por exemplo, os investigadores concluíram que o arsénico se deve ter misturado com o sal agitado no mar (ou seja, com o cloreto de sódio) a caminho dos Pirenéus.

No entanto, a equipa de Lenny Winkel investigou o carbono orgânico dissolvido noutras amostras. “Pode provir de fontes naturais, como as plantas e o pólen. Mas também pode ser devido à poluição ambiental induzida pelo homem, proveniente dos transportes ou da indústria”, afirma Esther Breuninger, a primeira autora do artigo científico. E acrescenta: “Em todo o caso, o carbono orgânico dissolvido indica que o arsénio deve ter viajado por massas de terra antes de chegar à nossa amostra.”

Processos biológicos mais importantes do que o esperado

Lenny Winkel e a sua equipa detetaram vários tipos de arsénio nas amostras de água da chuva. Além do arsénio inorgânico esperado, encontraram também os chamados compostos de arsénio metilado. Estes são formados quando bactérias, algas, plantas ou fungos absorvem arsénio inorgânico — e depois excretam o veneno numa forma convertida, protegendo-se assim potencialmente. As análises dos investigadores mostram que o arsénico é convertido tanto no mar como em terra.

“Até agora, pensava-se que as atividades humanas, como a queima de carvão ou a fundição de minérios, eram as principais responsáveis pelo arsénico atmosférico”, diz Lenny Winkel. No entanto, em algumas amostras de nuvens, os compostos metilados constituíam a maior parte do arsénio detetado. “Estes resultados mostram que os processos biológicos desempenham um papel mais importante do que se supunha anteriormente”.

Agora, a influência dos processos biológicos no ciclo global do arsénio tem de ser mais considerada nos modelos. “Aparentemente, os organismos vivos contribuem para a mobilização da poluição histórica por arsénico e para a sua distribuição global através do seu metabolismo”, conclui LEnny Winkel.

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