Já viu o filme de ficção científica Lucy que estreou em 2014? O ator Morgan Freeman veste a pele de um médico e cientista chamado Samuel Norman que numa palestra afirma: “Estima-se que o golfinho use até 20% da sua capacidade cerebral, ao contrário do ser humano que utiliza apenas 10%, o que lhe permite ter um sistema de ecolocalização mais eficiente do que qualquer sonar inventado pelo homem, mas este não o criou, desenvolveu-o!”
Esta estatística não está provada, mas que o cérebro dos golfinhos supera o dos humanos em muitos aspetos, isso é inegável. A complexidade do seu córtex cerebral é enorme. O número de neurónios é 50% superior ao do homem. O cérebro humano adulto pesa 1450 gramas, enquanto o do golfinho ronda as 1700 gramas. As estatísticas também dizem que para desenvolver a fala é necessário que o cerébro pese pelo menos 700 gr, por isso…
Mestres da comunicação
Já ouviu os seus sibilos e chiados? Senão, oiça aqui neste link.
A verdade é que não são simples sons, trata-se de um sistema de comunicação muito complexo. Em 1950, John C. Lilly começou a estudá-los de uma forma mais séria, descobrindo que estes comunicam através da ecolocalização e através de um sistema verbal. Veja abaixo como funciona:
Os golfinhos passam grande parte do tempo debaixo de água, por isso não podem comunicar da mesma forma que nós, em terra. Na água o som propaga-se mais eficientemente, em alta velocidade e potencialmente a grandes distâncias. Um artigo da Ciência Ufpr explica que isto acontece porque sendo o som uma onda mecânica, precisa de meios com diferentes partículas para se propagar. Como a água é mais densa do que o ar, essas ondas acabam por se difundir mais facilmente. Para ter a noção do que isto significa: a velocidade do som na água é de 1450 metros por segundo e no ar 340 metros por segundo, em condições normais de temperatura e pressão. A mesma fonte diz ainda que alguns fenómenos físicos associados às diferentes propriedades do meio também podem afetar a transmissão do som, sendo bons exemplos “a atenuação (diminuição da amplitude sonora) , a reflexão (quando uma onda sonora se propaga e encontra um obstáculo rebatendo o som), a reverberação (intervalo entre a emissão do som e a chegada dele ao ouvido) e a absorção (equaliza e adequa a distribuição das ondas sonoras pelo ambiente, dando mais conforto acústico”. Tudo isto já dá para ter uma ideia de quão complexa é a comunicação debaixo de água.
Cientistas da “Universidade St. Andrews”, na Escócia recentemente descobriram que os golfinhos chamam uns pelos outros por nomes próprios. Como chegaram a esta conclusão? Gravaram os chamados dos golfinhos e alteraram o timbre por computador. Depois colocaram-no na água. Dos 14 animais pesquisados, nove responderam. Isso significa que estes reconhecem não só o timbre da mensagem, mas também o seu conteúdo, no caso, o seu nome. Uma pesquisa anterior, de 2001, realizada na “Universidade de Columbia”, nos EUA, revelou que os golfinhos também são capazes de reconhecer o seu reflexo no espelho.
Foto: Pixabay@Makabera
Essa imagem dos golfinhos como seres inteligentes remonta à Antiguidade Clássica. No livro “Ecologia e Biomidiologia”, Flávio Calazans publicado pela editora Plèide, em 2002, refere que há comportamentos e personalidade dos golfinhos que remontam, imagine aos povos primitivos com pinturas em cavernas, templos, moedas, joias e decoração de vasos. Há, inclusive um pictograma, um selo de golfinho na ilha de Creta, no Mar Mediterrâneo, que data de 3500 a. C. O autor conta que Ulisses (Odisseu), o lendário rei de Ítaca, ou o herói grego que idealizou o Cavalo de Tróia tinha como brasão um golfinho, o que demonstra que para os helénicos esses animais representavam a inteligência.
Heródoto, o pai da história também relata o salvamento de um náufrago por um golfinho. Arion estava num navio que ia de Corinto para Sicília quando marinheiros querendo roubar o seu ouro o lançaram ao mar e um golfinho carregou-o por horas nas suas costas, salvando a sua vida. Até Aristóteles relatou a sua inteligência e já mencionava a sua linguagem verbal, articulada, referindo ter semelhanças com a nossa. O professor de Alexandre, o Grande foi o primeiro a considerar estes animais tão inteligentes quanto os homens. Poder-se-ia continuar a enumerar na história vários relatos que provam esta tese. O pesquisador e explorador submarino Jacques Cousteau chamava-os de “intelectuais dos mares” e para Carl Sagan, o atrofísico da NASA somos a única espécie com a qual os golfinhos poderiam realizar experiências psicológicas