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Fungos marinhos comem plástico e podem ser treinados para fazê-lo mais rápido

Com o equivalente a cerca de 625 mil camiões de lixo de plástico a entrar no oceano todos os anos, é fundamental encontrar formas de degradar estes compostos

O plástico é o poluente marinho mais prevalente e as superfícies de plástico são o habitat que mais cresce no oceano. Investigadores da Universidade do Havai (UH) em Mānoa descobriram recentemente que muitas espécies de fungos isoladas do ambiente costeiro conseguem degradar o plástico e algumas podem ser condicionadas para o fazer mais rapidamente. 

“O plástico no ambiente atual tem uma vida extremamente longa e é quase impossível de degradar utilizando as tecnologias existentes”, afirmou Ronja Steinbach, que liderou esta investigação enquanto estudante de licenciatura em biologia marinha na Faculdade de Ciências Naturais da UH Mānoa. “A nossa investigação destaca os fungos marinhos como um grupo promissor e largamente inexplorado para investigar novas formas de reciclar e remover o plástico da natureza. Muito poucas pessoas estudam os fungos do oceano e estimamos que menos de um por cento dos fungos marinhos estão atualmente descritos.”

Para os consumidores, os plásticos são baratos, resistentes e úteis, mas os resíduos de plástico são problemáticos porque, em vez de se decomporem, partem-se em microplásticos quando expostos à luz solar, ao calor e à força física. Os plásticos são prejudiciais para os ecossistemas marinhos – podem concentrar substâncias químicas perigosas, como os ftalatos e o bisfenol A; aprisionar ou prejudicar os animais; ou ser ingeridos e levar à fome dos animais marinhos devido à subnutrição. Com o equivalente a cerca de 625 mil camiões de lixo de plástico a entrar no oceano todos os anos, é fundamental encontrar formas de degradar estes compostos.

Micróbios com superpoderes

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Uma variedade de fungos marinhos coloridos cultivados em placas de Petri no laboratório de Anthony Amend. Foto:Syrena Whitner, Universidade do Havaí

Vários micróbios, incluindo bactérias e fungos terrestres, têm sido testados quanto à sua capacidade de degradar plásticos, na esperança de que a biotecnologia possa, um dia, ser utilizada a escalas ecologicamente relevantes. Embora se tenha verificado que muitos fungos terrestres degradam vários tipos de plástico, a equipa de investigadores da UH Mānoa School of Ocean and Earth Science and Technology (SOEST) centrou a sua atenção na grande coleção de fungos que isolaram da areia, algas, corais e esponjas da costa próxima do Havai.

“Os fungos possuem um superpoder para comer coisas que outros organismos não conseguem digerir (como madeira ou quitina), por isso testámos a capacidade dos fungos da nossa coleção para digerir plástico”, disse Anthony Amend, professor do Pacific Biosciences Research Center, que dirige o laboratório onde Steinbach e Syrena Whitner, coautora do estudo e estudante licenciada em biologia marinha, conduziram a investigação.

Para tal, a equipa encheu pequenos pratos com poliuretano, um plástico comum, frequentemente utilizado em produtos médicos e industriais, como espumas, materiais flexíveis e adesivos, e mediu a rapidez com que os fungos consumiam o plástico. Os investigadores pegaram nos fungos que cresceram mais rapidamente e fizeram-nos evoluir experimentalmente para ver se, ao longo do tempo, com uma maior exposição ao poliuretano, estes fungos se adaptavam para comer plástico de forma mais rápida e eficiente.

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A coautora do estudo Syrena Whitner em uma expedição a colher fungos nas águas costeiras do Havaí. Foto: Bryson Gonzalez, Universidade do Havaí

“Ficámos chocados ao descobrir que mais de 60% dos fungos que recolhemos do oceano tinham alguma capacidade de comer plástico e transformá-lo em fungos”, disse Steinbach. “Também ficámos impressionados ao ver a rapidez com que os fungos se adaptaram. Foi muito emocionante ver que em apenas três meses, um período de tempo relativamente curto, alguns dos fungos foram capazes de aumentar as suas taxas de alimentação em até 15%.”

Devido à localização do Havai no Giro Subtropical do Pacífico Norte, as correntes oceânicas trazem para as nossas costas resíduos de plástico de todo o mundo e, nas proximidades, encontra-se a Grande Mancha de Lixo do Pacífico.

A equipa da UH Mānoa está agora a expandir a sua investigação para ver se estes fungos promissores, e outros, podem comer diferentes tipos de plástico, como o polietileno e o politereftalato de etileno, que são ainda mais difíceis de degradar e fontes ainda maiores de poluição marinha. Os cientistas estão também a tentar compreender, a nível celular e molecular, como é que os fungos conseguem degradar estes compostos.

“Esperamos colaborar com engenheiros, químicos e oceanógrafos que possam transformar estas descobertas em soluções reais para limpar as nossas praias e oceanos”, partilhou Steinbach.

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